Na semana passada publiquei a segunda parte da análise da Encore e seus principais produtos. No final do artigo comento e indico uma discussão levantada pelo Américo Damasceno, no seu blog. Reproduzo abaixo um post dele para mim na lista da OLPC-Brasil sobre a "evolução do computador pessoal" e de como isto foi um "mal negócio" para seu próprio desenvolvedor, a IBM.
Só lembrando, o Américo é engenheiro aposentado da própria IBM e trabalhou lá na época da revolução do PC.
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Em 08/02/07, Americo Damasceno<[EMAIL PROTECTED]> escreveu:
Jaime,
Nós da IBM (digo isso por ter passado toda a minha vida profissional lá, apesar de hoje estar aposentado) tínhamos um compromisso com um padrão de qualidade muito alto. Nossa visão de engenharia de computador era como a visão do engenheiro aeronautico: a possibilidade de falha tem que ser mínima. Como se faz isso? Quando você entra na cabine de um avião acha que está vendo uns 500 reloginhos diferentes. Não são 500, são 250. Tudo é duplicado porque se um falhar o outro garante. Num mainframe IBM (que foram as máquinas com que trabalhei mais) quase tudo é duplicado ou triplicado. A confiabilidade é maior que 99 porcento. Por isso um mainframe custava mais de 1 milhão de dólares. Quando se resolveu criar o IBMPC, nós não acreditávamos num uso comercial duma máquina que tinha um grau de confiabilidade tão baixo. Igualmente não acreditávamos no uso comercial da internet, que até hoje,, todo mundo sabe, é completamente insegura. Víamos tanto o PC quanto a Internet como viáveis para uso por estudantes, professores, hobbyistas etc.
O mercado, o público em geral, no entanto ficou fascinado (e ainda é fascinado até hoje) com o uso de computadores. Realmente é fascinante mesmo. Apesar de estar no ramo desde 1969 (quase 40 anos!) ainda me entusiasmo com coisas que aparecem como rede mesh etc. E o público aceitou trabalhar com produtos de baixa qualidade (é claro que essa qualidade vem melhorando). E houve um boom de vendas de PC para empresas. Quando a IBM viu que isso estava acontecendo, tentou criar um PC com uma qualidade um pouco melhor (e com uma arquitetura e sistema operacional proprietários). Não funcionou. Foi como o caso do BetaMax e do VHS. A Sony criou os dois formatos. O BetaMax era bem superior e ela liberou o VHS para o mercado. Não achou que uma porcaria daquelas ia fazer grande sucesso. Poderia atingir um mercado de baixo preço, apenas. Que não é o "mercado Sony". Mas o VHS se disseminou e matou o BetaMax.
Hoje, a visão da IBM (é o que acho; não sou autorizado para falar em nome da IBM, claro - é apenas a constatação do que observo) é de que micro-computador é uma commodity. É como gasolina. Toda gasolina, de qualquer posto, é 99 porcento igual. E uma commodity tem sempre uma margem de lucro muito baixa, porque o número de players no mercado não tem limites. Assim, a IBM está se transformando, cada dia mais, numa empresa de serviços e não de venda de máquinas. No último anos, serviços já passou de 60 por cento no total do seu lucro. Ela continua fabricando seus mainframes (para quem precisa de máquinas com alta confiabilidade) e projetos especiais como o hardware de consoles de games, aparelhos médicos etc.
Mas, voltando ao nosso XO: partindo dessa idéia de que micro-computador é uma commodity, fácil de fazer igual, é que vejo o marketing da Intel um pouco equivocado se estão tentando concorrer com o XO. Imagine que você abra uma cadeia de postos de gasolina sem fins lucrativos. Não dá para concorrer. O ClassMate optou por uma configuração mais potente (e mais cara) que o XO. Mas eles podem fazer um clone do XO, se quiserem. Assim como a OLPC Inc. pode fazer um clone do ClassMate se quiser. O diferencial aqui é que a OLPC Inc. não visa lucro. Assim, não é fácil concorrer com ela. É claro que a Shell pode dizer que sua gasolina tem ICA ou DNA ou qualquer outra tentativa de diferenciar seu produto, mas a realidade é que é toda gasolina é 99 porcento igual.
O que eu acho é que a Intel está tentando minar a idéia de que um computador "pelado", de baixa sofisticação também é viável. Isso contraria toda um planejamento de marketing de puxar o mercado sempre para coisas mais sofisticadas. Eu me lembro que a gente comentava na IBM sobre o micro-computador: "Isso é uma fria em termos de negócio, vai virar relógio ou calculadora". E tentávamos (agora se conseguiu) sair fora disso. Meu palpite é que micro-computador vai "virar relógio" e daqui a pouco vai ter camelô vendendo XO-likes a 50 reais na Avenida Paulista.
Se a Intel e Microsoft não acordarem a tempo e sairem dessa (como a IBM saiu) suas ações podem virar mico.
Quem viver verá.
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terça-feira, 10 de abril de 2007
O futuro (ou destino) dos computadores
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