Causou certa comoção o anúncio de uma parceria entre a OLPC e a Intel, depois dos dois lados terem travado ásperas trocas de acusação, como Negroponte chamando a estratégia de barateamento do ClassMate de dumping e a Intel afirmar que o seu projeto "também" é um projeto educacional, parodiando Negroponte.
Deixando as fofocas de lado, como as patrocinadas pelo Meio-Bit. Qualquer análise um pouco racional perceberá que as críticas, principalmente as da OLPC, se referiam à divisão inútil de esforço numa briga por fatias de mercado que tenderia a inviabilizar ambos os projetos, com prejuízos maiores para a OLPC, dado seu maior comprometimento, foco e objetivo.
A partir do momento que a Intel levanta a bandeira branca, faz sua mea-culpa e aceita discutir seriamente a disseminação dos laptops de baixo custo, deixando claro quais são seus interesses, não há porque brigar ou criticar mais.
Durante o 1o Encontro de Laptops Educacionais perguntei aos representantes da Intel que acabavam de fazer uma longa preleção sobre o ClassMate e as redes WiMax quais eram as intenções de convergência dessas tecnologias, incluindo o EEE da Asus e a nova plataforma MID, para equipamentos móveis.
Tentei ser o mais discreto possível, jogando muito verde. O resultado foi uma farta colheita, bem madura:
- Eles admitiram que o ClassMate é um "computador-conceito" que pode ser fabricado com todas ou partes de suas características por qualquer empresa interessada. Isto é, não veremos o ClassMate sendo comercializado, principalmente porque a tecnologia mais cara no qual é baseado (o Celeron) não é competitiva para este tipo de aparelho. Mas os softwares, tamanho, indicadores de resistência e sugestões de uso podem fazer parte de outros projetos educacionais.
- Sem discrição os dois representantes "torceram o nariz" para o EEE da Asus. Ele não tem nada a ver com o ClassMate e não foi baseado nele. No entanto ele é um produto voltado para mercados emergentes, que pode ser utilizado em educação e, principalmente, utilizará a plataforma Intel Mobile, seja ela qual for. Em resumo: é o tipo de parceria que a Intel gosta de fazer.
- O WiMax é peça fundamental e motor de todas as ações em mobilidade da Intel. O que parece interessar realmente à empresa é vender serviços móveis com esta tecnologia, da qual possui a patente. A nova plataforma MID, laptops educacionais e outros equipamentos móveis de uso geral apenas agregam valor à investida da Intel em ganhar este mercado - antes que outra tecnologia sem-fio melhor apareça.
Depois que a OLPC apareceu a Intel fez todos os movimentos para dar alguma resposta em um ramo que ela não queria ver desenvolvido. O Américo Damasceno chamou este mercado de "PC-BIC" em alusão à famosa e, principalmente, barata caneta esferográfica. Manter os computadores de baixo-custo presos ao nicho educacional é interessante, o problema é quando estas máquinas avançam sobre os mercados realmente rentáveis, como os escritórios e demais consumidores. Este, por sinal, é o objeitvo de projetos como o EEE da Asus e o Mobilis da Encore.
Quem recuou e aceitou o peso dos argumentos foi a Intel e não a OLPC. Se ela conseguir compatibilizar o XO com a rede WiMax já terá um ganho estratégico enorme. Além disso, passará a integrar um time de desenvolvedores e tecnologias com grande potencial de assimilação. Pensem comigo: o que seria da tecnologia da Rede Mesh se não fosse a OLPC?
O mais importante é para a OLPC é que a plataforma que ela passou mais de 3 anos desenvolvendo irá "conversar" com a nova plataforma móvel da Intel. Produtos, softwares e conectividade serão compatíveis. Isto é um ganho também enorme para ambos e, principalmente, para nós, usuários.
A foto acima é do primeiro protótipo não-comercial da nova plataforma Intel-MID. Maiores informações, em inglês, aqui.
2 comentários:
Belíssima análise Jaime! Bastante esclarecedora!
PS: Uma pena o encontro lá da UFF não proporcionar o encontro da platéia!
Estava lá e gostaria muito de conversar com você e com os outros presentes!
[]'s
Acho que a coisa é por aí mesmo, Jaime. A Intel está tentando salvar o WiMax, que ainda é um hype à procura de algo que o justifique, e precisa de algo que o justifique.
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